segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

O Batuque do rio grande do Sul


Com certeza você já ouviu falar em Candomblé e Umbanda, correto? Mas e em BATUQUE? Batuque como religião e não batida e melodia conhecida nas religiões afros? Aqui eu vou contar um pouco dessa religião que se concentra em maior quantidade no sul do Brasil, mais especificamente no Rio Grande do Sul. De maneira bem resumida, tentarei deixar o mais claro possível, já que essa religião é tão rica de detalhes que não me caberia somente aqui. No final do post, deixarei disponível livros, vídeos e outras fontes que possam agregar ao conhecimento mais detalhado deste assunto.

A HISTÓRIA:
O Batuque é um culto afro-brasileiro, que se estruturou no Rio Grande do Sul no início do séc. XIX, entre os anos 1833 e 1859. Originando-se primeiramente em Pelotas, trazido pelos escravos das regiões da Nigéria. Atualmente, o Batuque é tão pouco cultuado que beira à extinção. Cabe ressaltar que o Batuque, mesmo que parecido com o Candomblé e Umbanda que conhecemos, tem um fundamento próprio, com suas próprias doutrinas, dogmas e seguimento.


O CULTO:

Assim como em outras religiões afro-brasileiras, o Batuque também tem suas vertentes, sendo elas: Nagô, Ijexá, Oyó (onde nasci e cresci), Jejê e Cabinda. 
As nações do Batuque cultuam EXCLUSIVAMENTE 12 orixás, que são: Bará, Ogum, Iansã, Xangô, Odé, Otim, Ossanha (NHA MESMO! Nada de IN), Obá, Xapanã, Oxum, Iemanjá e Oxalá. Em algumas vertentes, um ou outro Orixá são diferentes, mas digo exclusivamente em letra maiúscula pois no Batuque não há uma “esquerda” com Exus e Pombo-Giras, Boiadeiros que conhecemos, tampouco há a “direita” com Caboclos, Preto-velhos, Erês... Somente os Orixás são cultuados (há exceções, mas aí entraremos numa opinião pessoal), e pasmem (ou não), os Orixás falam, tão fluentes como nós. 
O Batuque é uma religião extremamente dogmática, hierárquica, rígida e secreta. Onde até mesmo a maneira de se cozinhar, é mantida como na antiguidade (o acarajé, por exemplo, é obrigatoriamente ainda feito na pedra). Me poupo em palavras com receio de que algo que não possa ser dito seja exposto, já que os segredos da nação devem ser mantidos conosco.



A FEITURA DO ORIXÁ: (referêcia: https://sites.google.com/site/iledebaraexango/0/historia-da-nacao-batuqueira---jeje-ijexa)

Bori de ave
Para alguns, a principal obrigação do Batuque. Nesta obrigação, após jogada e confirmada nos Búzios a cabeça e passagens (corpo, pernas, etc) do filho será sacrificado sobre sua cabeça a ave (galo ou galinha e pombo ou pomba) específica de seu Orixá, no seu corpo outra ave correspondendo ao Orixá que cuidará desta passagem. Nesta obrigação o filho-de-santo estreita sua relação com o Orixá, concebendo também uma forte raiz dentro da Nação, tendo em um pote, denominado de Bori, uma moeda, búzios e mel a representação de sua cabeça ligada ao seu Orixá, tornando-se assim um filho da Religião.

Bori de Quatro-pés
Seria uma graduação e maior estreitamento com seu Orixá dentro da Religião, nesta obrigação além das aves, serão sacrificados no Bori também os animais de quatro patas (cabritos, ovelhas, etc) referente a cada Orixá.

Assentamento da Vasilha sobre Acutá ou Alcutá
Assim como a Umbanda tem sua força representada nos vegetais, o Batuque além disto apresenta a forma mineral para representar seus Orixás. Os acutás, (cada Orixá possui seu modelo e tipo) são pedras colocadas em uma vasilha de barro com as ferramentas de cada Orixá, onde, após o sacrifício de seus animais de pena e quatro patas, será a Sua representação.

Aprontamento de Ofá (Búzios) e Obé (faca)
Nesta graduação o filho-de-santo se prepara para em futuro próximo ser um Pai-de-Santo. Consiste em assentar na vasilha todos Orixás de Bará até Oxalá, o filho então além de ter sua "cabeça" e suas passagens, passa agora a ter todos os Orixás com nome e sobrenome, sento em vasilhas representados em seus acutás e ferramentas. O futuro "pronto" preparará também neste ritual, sua faca, que futuramente usará em sacrifícios para seus futuros filhos e seus búzios, ferramenta esta que usará para guiar a sua vida e dos seus, quando tiver montada sua Casa de Religião.

A FESTA: (o Culto/a Gira, que diferente do que conhecemos, não é algo que é feito para receber pessoas de fora e dar consultas e passes, é um culto próprio, único e exclusivo para o Orixá. Não que as pessoas não recebam passe e consulta, mas não é algo que ocorre com frequência, já que as festas são normalmente conduzidas às feituras e obrigações dos Orixás).

Após as obrigações cumpridas e encerrada a Levantação (nome dado ao término das obrigações pois como diz a palavra, será levantado todas as frentes que ficaram em um determinado tempo dentro do Quarto-de-Santo), será tocada a Festa, o Batuque.
Normalmente como em uma festa social, muitos convites são distribuídos para outras Casas de Religião, fiéis e até mesmo curiosos.

O Pai ou Mãe-de-Santo, ajoelhado em frente ao Quarto-de-Santo, juntamente com todos seus filhos e demais convidados de Religião, tocando a sineta, faz a chamada de todos os Orixás de Bará a Oxalá com suas saudações específicas, pedindo a cada Orixá as coisas que a Eles competem. Terminada a chamada, o Pai-de-Santo autoriza o tamboreiro a começar o toque, que correrá em ordem de Bará a Oxalá. Todos que estão na roda dançam com as características de cada Orixá ao qual está sendo tocada a Reza, como por exemplo na reza do Bará, todos dançam como se abrindo portas com uma chave em punho na mão direita, já que este Orixá é o dono da chave e abertura dos caminhos, na Reza do Ogum, os fiéis dançam com a mão direita como uma espada tocando a mão esquerda, também em uma determina Reza do Ogum todos dançam para os lados como embriagados estivessem representando estarem tomando o Atã, ainda em outra determinada Reza do Ogum representam na dança estarem andando a cavalo e assim por diante conforme cada Orixá.

Dentro da Festa existem rituais específicos que chamaremos aqui de "Axé", como por exemplo:
Axé da Balança:

Se a Obrigação que originou a Festa teve o corte de quatro-pés, deverá ser realizada dentro das Rezas para Xangô a Obrigação da Balança. Neste ritual o tamboreiro para o toque, para que o Chefe da Casa organize a roda, neste momento normalmente o salão esvazia, pois acredita-se ser um ritual muito perigoso, pois, todos dançaram de mãos dadas, todos de frente para o centro da roda, onde calmamente será tocado pelo tamboreiro a Reza específica para este Axé e todos começarão um movimento de abrir e fechar esta roda, acompanhando o toque do tambor que irá acelerando gradativamente e com as mão bem seguras pois se arrebentar a Balança, deverá ser pedido misericórdia para Xangô para que nenhum filho venha a morrer. Neste momento até acabar o toque, se manifesta um grande número de Orixás e todos deverão se manter de mãos dadas até que o tamboreiro encerre a Reza. Somente participa da Balança filhos ou convidados que já possuam a Obrigação de quatro-pé.

Existem ainda outros Axés como por exemplo: Axé do Atã, Axé do Ecó e etc.
Após o Axé do Ecó, que será realizado após as Rezas de Xapanã, onde foi limpado e retirado da Casa todas as impurezas e vibrações negativas, começa o toque para os Orixás Velhos ou Doces, toca-se para Oxum, Iemanjá e Oxalá, terminando assim a Festa.
Normalmente o Batuque começa a meia-noite e estende-se até as seis ou sete horas da manhã, isto também é uma influência dos escravos, já que os negros na época da escravatura podiam fazer seus rituais somente após terminados seus trabalhos para os seus Senhores, ou esperar com que eles fossem dormir.

OS RITUAIS: (referências https://pt.wikipedia.org/wiki/Batuque_(religi%C3%A3o))

A principal característica do ritual do Batuque é o fato do iniciado não poder saber em hipótese alguma que foi possuído pelo seu orixá, sob pena de ficar louco.
Cada babalorixá ou iyalorixá tem autonomia na prática de seus rituais, não existem nomenclaturas de cargos como tem no candomblé, exercem plenos poderes em seus ilês. Os filhos de santo se revezam nos cumprimentos das obrigações.
No mínimo uma vez por ano são feitos homenagens com toques para os Orixás, mas as festas grandes são de quatro em quatro anos. Chamamos de festa grande a obrigação que tem ebó, ou seja quando há sacrifícios de animais de quatro patas aos orixás, cabritos, cabras, carneiros, porcos, ovelhas, acompanhados de aves como galos, galinhas e pombos.
Esta obrigação serve para homenagear o orixá "dono da casa" e dos filhos que ainda não possuem seu próprio templo. A data é geralmente a mesma que aquele sacerdote teve assentado seu orixá, a data de sua feitura. As festas têm um ciclo ritual longo, que antigamente duravam 32 dias de obrigações, hoje diante das dificuldades duram no máximo 16. O começo de tudo são as limpezas de corpo e da casa, para descarregar totalmente o ambiente e as pessoas, de toda e qualquer negatividade; em seguida são preparados as oferendas e sacrifícios ao Bará. A partir deste momento, os iniciados já ficam confinados ao templo, esquecendo então o cotidiano e passam a viver para os orixás por inteiro até o final dos rituais. No dia do serão (dia da obrigação de matança), todos os orixás recebem sacrifícios de animais. Os cabritos e aves são preparados com diversos temperos e servidos a todos que participarem dos rituais, tudo é aproveitado, inclusive o couro dos animais, que sevem para fazer os tambores usados nos dias de toques.
No dia da festa o salão é enfeitado com as cores dos orixás homenageados. A abertura se dá com a chamada (invocação aos Orixás), feita pelo sacerdote em frente ao peji (quarto de santo), usando a sineta de apenas uma campânula (alaje), saudando todos orixás. Ao som dos tambores, as pessoas formam uma roda de dança em louvor aos orixás, a cada um com coreografias especiais de acordo com suas características.
No final das cerimônias são distribuídos os mercados, (bandejas contendo todo tipo de culinária dos Orixás como: acarajé, axoxó (milho cozido e fatias de coco), farofa de aves, carnes de cabritos (cozidas ou assadas), frutas, fatias de bolos etc.), alguns consomem ali mesmo, outros levam para comer em casa.
Levantação Das Obrigações
Geralmente, três dias após a "matança", é feita a "levantação" das obrigações. Esta etapa, corresponde a um momento particular, na qual participam somente os filhos da casa e os que estão em iniciação. Neste momento, todos os "otás" (ocutás), e objetos sagrados que receberam o axorô (sangue dos animais) são retirados das "vasilhas" (alguidares e bacias de louça), e são lavados com omieró, (no Orixá Bará passa-se apenas um pano umedecido no omieró, não se deve molhar muito os objetos de assentamento deste Orixá).


Referências gerais:










Referências literárias:

·        Do batuque e das origens da umbanda: simbolismo, ritualismo, intepretação de Leopoldo Bettiol
·        As religiões afro-brasileiras do Rio Grande do Sul de Ari Pedro Oro
·        O batuque do Rio Grande do Sul: antropologia de uma religião afro-rio-grandense de Norton Figueiredo Corrêa
Referências em vídeo:


Aléxia de Andrade - Bisneta carnal de Mãe Mathilde de Ogum e neta carnal de Mãe Neneca de Xangô. 



2 comentários:

  1. PARABÉNS PÔR ESTÁ MATÉRIA. SOU PAI NILSOM DE OXUM. FILHO DE SANTO DE MÃE ARACI DE ODÉ. NETO DE VÓ EMILIA
    CULTUO UNICAMENTE ORIXÁS. MINHA CASA ....ILE DO PAIZINHO. RUA DIVINOPOLIS 29 VILA NOSSA SENHORA APARECIDA VIAMÃO RIO GRANDE DO SUL BRASIL.

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  2. Pai Nilsom de OXUM IJEMU MIUÁ NAÇÃO OYÓ

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