Com certeza você já ouviu falar em Candomblé e Umbanda, correto? Mas e em BATUQUE? Batuque como religião e não batida e melodia conhecida nas religiões afros? Aqui eu vou contar um pouco dessa religião que se concentra em maior quantidade no sul do Brasil, mais especificamente no Rio Grande do Sul. De maneira bem resumida, tentarei deixar o mais claro possível, já que essa religião é tão rica de detalhes que não me caberia somente aqui. No final do post, deixarei disponível livros, vídeos e outras fontes que possam agregar ao conhecimento mais detalhado deste assunto.
A HISTÓRIA:
O Batuque
é um culto afro-brasileiro, que se estruturou no Rio Grande do Sul no início do
séc. XIX, entre os anos 1833 e 1859. Originando-se primeiramente em Pelotas,
trazido pelos escravos das regiões da Nigéria. Atualmente, o Batuque é tão
pouco cultuado que beira à extinção. Cabe ressaltar que o Batuque, mesmo que
parecido com o Candomblé e Umbanda que conhecemos, tem um fundamento próprio,
com suas próprias doutrinas, dogmas e seguimento.
O CULTO:
Assim como
em outras religiões afro-brasileiras, o Batuque também tem suas vertentes,
sendo elas: Nagô, Ijexá, Oyó (onde nasci e cresci), Jejê e Cabinda.
As nações do Batuque cultuam EXCLUSIVAMENTE 12 orixás, que são: Bará, Ogum, Iansã, Xangô, Odé, Otim, Ossanha (NHA
MESMO! Nada de IN), Obá, Xapanã, Oxum, Iemanjá e Oxalá. Em algumas vertentes, um
ou outro Orixá são diferentes, mas digo exclusivamente em letra maiúscula pois
no Batuque não há uma “esquerda” com Exus e Pombo-Giras, Boiadeiros que
conhecemos, tampouco há a “direita” com Caboclos, Preto-velhos, Erês... Somente
os Orixás são cultuados (há exceções, mas aí entraremos numa opinião pessoal), e pasmem (ou não), os Orixás falam, tão fluentes como
nós.
O Batuque é uma religião extremamente dogmática, hierárquica, rígida e secreta.
Onde até mesmo a maneira de se cozinhar, é mantida como na antiguidade (o
acarajé, por exemplo, é obrigatoriamente ainda feito na pedra). Me poupo em
palavras com receio de que algo que não possa ser dito seja exposto, já que os
segredos da nação devem ser mantidos conosco.
A FEITURA DO ORIXÁ: (referêcia:
https://sites.google.com/site/iledebaraexango/0/historia-da-nacao-batuqueira---jeje-ijexa)
Bori de ave
Para alguns, a principal obrigação do Batuque. Nesta obrigação, após
jogada e confirmada nos Búzios a cabeça e passagens (corpo, pernas, etc) do
filho será sacrificado sobre sua cabeça a ave (galo ou galinha e pombo ou
pomba) específica de seu Orixá, no seu corpo outra ave correspondendo ao Orixá
que cuidará desta passagem. Nesta obrigação o filho-de-santo estreita sua
relação com o Orixá, concebendo também uma forte raiz dentro da Nação, tendo em
um pote, denominado de Bori, uma moeda, búzios e mel a representação de sua
cabeça ligada ao seu Orixá, tornando-se assim um filho da Religião.
Bori de Quatro-pés
Seria uma graduação e maior estreitamento com seu Orixá dentro da
Religião, nesta obrigação além das aves, serão sacrificados no Bori também os
animais de quatro patas (cabritos, ovelhas, etc) referente a cada Orixá.
Assentamento da Vasilha sobre Acutá ou Alcutá
Assim como a Umbanda tem sua força representada nos vegetais, o Batuque
além disto apresenta a forma mineral para representar seus Orixás. Os acutás,
(cada Orixá possui seu modelo e tipo) são pedras colocadas em uma vasilha de
barro com as ferramentas de cada Orixá, onde, após o sacrifício de seus animais
de pena e quatro patas, será a Sua representação.
Aprontamento de Ofá (Búzios) e Obé (faca)
Nesta graduação o filho-de-santo se prepara para em futuro próximo ser
um Pai-de-Santo. Consiste em assentar na vasilha todos Orixás de Bará até
Oxalá, o filho então além de ter sua "cabeça" e suas passagens, passa
agora a ter todos os Orixás com nome e sobrenome, sento em vasilhas
representados em seus acutás e ferramentas. O futuro "pronto"
preparará também neste ritual, sua faca, que futuramente usará em sacrifícios
para seus futuros filhos e seus búzios, ferramenta esta que usará para guiar a
sua vida e dos seus, quando tiver montada sua Casa de Religião.
A FESTA: (o Culto/a Gira, que
diferente do que conhecemos, não é algo que é feito para receber pessoas de
fora e dar consultas e passes, é um culto próprio, único e exclusivo para o
Orixá. Não que as pessoas não recebam passe e consulta, mas não é algo que
ocorre com frequência, já que as festas são normalmente conduzidas às feituras
e obrigações dos Orixás).
Após as obrigações cumpridas e encerrada a Levantação (nome dado ao
término das obrigações pois como diz a palavra, será levantado todas as frentes
que ficaram em um determinado tempo dentro do Quarto-de-Santo), será tocada a
Festa, o Batuque.
Normalmente como em uma festa social, muitos convites são distribuídos
para outras Casas de Religião, fiéis e até mesmo curiosos.
O Pai ou Mãe-de-Santo, ajoelhado em frente ao Quarto-de-Santo,
juntamente com todos seus filhos e demais convidados de Religião, tocando a
sineta, faz a chamada de todos os Orixás de Bará a Oxalá com suas saudações
específicas, pedindo a cada Orixá as coisas que a Eles competem. Terminada a
chamada, o Pai-de-Santo autoriza o tamboreiro a começar o toque, que correrá em
ordem de Bará a Oxalá. Todos que estão na roda dançam com as características de
cada Orixá ao qual está sendo tocada a Reza, como por exemplo na reza do Bará,
todos dançam como se abrindo portas com uma chave em punho na mão direita, já
que este Orixá é o dono da chave e abertura dos caminhos, na Reza do Ogum, os
fiéis dançam com a mão direita como uma espada tocando a mão esquerda, também
em uma determina Reza do Ogum todos dançam para os lados como embriagados
estivessem representando estarem tomando o Atã, ainda em outra determinada Reza
do Ogum representam na dança estarem andando a cavalo e assim por diante
conforme cada Orixá.
Dentro da Festa existem rituais específicos que chamaremos aqui de
"Axé", como por exemplo:
Axé da Balança:
Se a Obrigação que originou a Festa teve o corte de quatro-pés, deverá
ser realizada dentro das Rezas para Xangô a Obrigação da Balança. Neste ritual
o tamboreiro para o toque, para que o Chefe da Casa organize a roda, neste
momento normalmente o salão esvazia, pois acredita-se ser um ritual muito
perigoso, pois, todos dançaram de mãos dadas, todos de frente para o centro da
roda, onde calmamente será tocado pelo tamboreiro a Reza específica para este
Axé e todos começarão um movimento de abrir e fechar esta roda, acompanhando o
toque do tambor que irá acelerando gradativamente e com as mão bem seguras pois
se arrebentar a Balança, deverá ser pedido misericórdia para Xangô para que nenhum
filho venha a morrer. Neste momento até acabar o toque, se manifesta um grande
número de Orixás e todos deverão se manter de mãos dadas até que o tamboreiro
encerre a Reza. Somente participa da Balança filhos ou convidados que já
possuam a Obrigação de quatro-pé.
Existem ainda outros Axés como por exemplo: Axé do Atã, Axé do Ecó e
etc.
Após o Axé do Ecó, que será realizado após as Rezas de Xapanã, onde foi
limpado e retirado da Casa todas as impurezas e vibrações negativas, começa o
toque para os Orixás Velhos ou Doces, toca-se para Oxum, Iemanjá e Oxalá,
terminando assim a Festa.
Normalmente o Batuque começa a meia-noite e estende-se até as seis ou
sete horas da manhã, isto também é uma influência dos escravos, já que os
negros na época da escravatura podiam fazer seus rituais somente após
terminados seus trabalhos para os seus Senhores, ou esperar com que eles fossem
dormir.
OS RITUAIS: (referências
https://pt.wikipedia.org/wiki/Batuque_(religi%C3%A3o))
A principal característica do
ritual do Batuque é o fato do iniciado não poder saber em hipótese alguma que
foi possuído pelo seu orixá, sob pena de ficar louco.
Cada babalorixá ou iyalorixá tem
autonomia na prática de seus rituais, não existem nomenclaturas de cargos como
tem no candomblé, exercem plenos poderes em seus ilês. Os filhos de santo se
revezam nos cumprimentos das obrigações.
No mínimo uma vez por ano são
feitos homenagens com toques para os Orixás, mas as festas grandes são de
quatro em quatro anos. Chamamos de festa grande a obrigação que tem ebó, ou
seja quando há sacrifícios de animais de quatro patas aos orixás, cabritos, cabras, carneiros, porcos, ovelhas,
acompanhados de aves como galos, galinhas e pombos.
Esta obrigação serve para
homenagear o orixá "dono da casa" e dos filhos que ainda não possuem
seu próprio templo. A data é geralmente a mesma que aquele sacerdote teve
assentado seu orixá, a data de sua feitura. As festas têm um ciclo ritual longo, que antigamente
duravam 32 dias de obrigações, hoje diante das dificuldades duram no máximo 16.
O começo de tudo são as limpezas de corpo e da casa, para descarregar
totalmente o ambiente e as pessoas, de toda e qualquer negatividade; em seguida
são preparados as oferendas e sacrifícios ao Bará. A partir
deste momento, os iniciados já ficam confinados ao templo, esquecendo então o
cotidiano e passam a viver para os orixás por inteiro até o final dos rituais.
No dia do serão (dia da obrigação de matança), todos os orixás recebem
sacrifícios de animais. Os cabritos e aves são preparados com diversos temperos
e servidos a todos que participarem dos rituais, tudo é aproveitado, inclusive
o couro dos animais, que sevem para fazer os tambores usados nos dias de
toques.
No dia da festa o salão é
enfeitado com as cores dos orixás homenageados. A abertura se dá com a chamada
(invocação aos Orixás), feita pelo sacerdote em frente ao peji (quarto de
santo), usando a sineta de apenas uma campânula (alaje), saudando todos orixás.
Ao som dos tambores, as pessoas formam uma roda de dança em louvor aos orixás,
a cada um com coreografias especiais de acordo com suas características.
No final das cerimônias são
distribuídos os mercados, (bandejas contendo todo tipo de culinária dos Orixás
como: acarajé, axoxó (milho cozido e fatias de coco), farofa de aves, carnes de
cabritos (cozidas ou assadas), frutas, fatias de bolos etc.), alguns consomem
ali mesmo, outros levam para comer em casa.
Levantação Das Obrigações
Geralmente, três dias após a
"matança", é feita a "levantação" das obrigações. Esta
etapa, corresponde a um momento particular, na qual participam somente os
filhos da casa e os que estão em iniciação. Neste momento, todos os
"otás" (ocutás), e objetos sagrados que receberam o axorô (sangue dos
animais) são retirados das "vasilhas" (alguidares e bacias de louça),
e são lavados com omieró, (no Orixá Bará passa-se apenas um pano umedecido no
omieró, não se deve molhar muito os objetos de assentamento deste Orixá).
Referências gerais:
Referências literárias:
·
Do batuque e das origens da
umbanda: simbolismo, ritualismo, intepretação de
Leopoldo Bettiol
·
As religiões
afro-brasileiras do Rio Grande do Sul de Ari Pedro Oro
·
O batuque do Rio Grande do Sul: antropologia
de uma religião afro-rio-grandense de Norton Figueiredo Corrêa
Referências em vídeo:
Aléxia de Andrade - Bisneta
carnal de Mãe Mathilde de Ogum e neta carnal de Mãe Neneca de Xangô.
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PARABÉNS PÔR ESTÁ MATÉRIA. SOU PAI NILSOM DE OXUM. FILHO DE SANTO DE MÃE ARACI DE ODÉ. NETO DE VÓ EMILIA
ResponderExcluirCULTUO UNICAMENTE ORIXÁS. MINHA CASA ....ILE DO PAIZINHO. RUA DIVINOPOLIS 29 VILA NOSSA SENHORA APARECIDA VIAMÃO RIO GRANDE DO SUL BRASIL.
Pai Nilsom de OXUM IJEMU MIUÁ NAÇÃO OYÓ
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