Os legítimos herdeiros de Shiva
Diferente de muitos gurus indianos que pregam o desapego material com uma mão enquanto cobram fortunas no pedágio da porta da "verdadeira iluminação", os aghoris de fato são desapegados a tais bens, mas não só a bens materiais como também a matéria como um todo e isso inclui seus corpos.
Os Aghoris são um grupo de sábios que praticam o Shivaismo (culto a Shiva) de acordo com a Aghora (religião Aghori).
O culto aparentemente foi difundido no século XIV na Índia, e continua até hoje. Eles não se utilizam do sistema Védico (baseado nos Vedas, antigos textos hinduístas), se baseando apenas no que diz respeito a Shiva.
A essencia da mensagem que seu culto passa reside na tradução do nome de sua temida religião. Aghori do sânscrito "अघोर" significa "nada é terrivel", eles pregam que se Shiva é perfeito, logo toda criação é perfeita, não existindo portanto o mal, sendo o ser humano alguém que deve transcender seu corpo e emoções para tornar-se um Shiva (ou uno com Ele) vivendo de acordo com a ritualística Dele.
Os Aghori por terem essa visão, não acreditam no sistema de castas atual da Índia, uma visão que permite acreditar-mos na igualdade social e na importância e perfeição de cada ser individual, porém, por trás dessa linda mensagem existe uma ritualística tão extrema que causa repulsa nos ocidentais e faz os próprios hinduistas temerem e odiarem os Aghoris.
A meditação Aghori esta focada na Morte, e como Shiva é o deus criador da meditação, eles levam meditação muito a sério.
Sexo mágico tântrico, fumar maconha e outras ervas semelhantes para entrar mais facilmente em contato com Shiva e ficar horas ininterruptas meditando são algumas práticas comuns aos aghoris, mas com certeza não as mais radicais.
Viver só de tanga ou mesmo nu, seja no frio ou no calor, se cobrir dos pés a cabeça com cinzas funerárias, dormir em cemitérios,
beber e tomar banho na água sagrada do Rio Ganges (um dos mais poluídos do mundo), beber licores e vinhos proibidos religiosamente, urina de vaca, a própria e até de cães vadios em um crânio humano (chama-se Kapala), comer restos de comida do lixo, comer qualquer tipo de carne, isso inclui carne podre e carne humana (no hinduísmo grande parte dos praticantes consideram comer carne um tabu), há rituais aghori onde eles meditam sobre um cadáver (facilmente encontrado boiando no Rio Ganges) e comem parte de sua carne podre em um ritual canibal dedicado a Shiva.
Seus rituais são sempre cruéis e dolorosos, é necessário para transcender Shava (corpo) e tornar-se Shiva, em outras palavras, superar as condições humanas.
E você aí se achando o Mago Negro por trabalhar com Goetia (pausa para risos).
O Aghori mais importante foi Kinaram, dizem ter vivido 150 anos e que era um dos avatares do próprio Shiva, existe ainda hoje um templo dedicado a ele, sendo ele considerado o Aghori mais sagrado até hoje.
Os simbolos/objetos mais comuns neste culto são os crânios (Kapalas) onde eles comem e bebem em honra a Shiva, o tridente de Shiva (representante dos três Shaktis/poderes primordiais: icchi, poder do desejo; jhana, poder do conhecimento e krya, o poder da ação), as serpentes (símbolo de Shiva superando a morte), as cinzas humanas usadas para cobrir o corpo e as mortalhas usadas como roupas (também símbolo da superação da morte), o bastão (representa a coluna vertebral, o caminho da Kundalini, levando o Aghori a iluminação).
Mas, apesar de todo o terror, medo e repulsa de todos, os Aghori são chamados em emergências espirituais e até físicas; os Aghoris são exímios curandeiros e feiticeiros habilidosos, possuem o poder de absorver as energias negativas e poluentes dos corpos para transmuta-las tanto quanto envia-las a alguém. Além disso tudo, os Aghoris tem forte ligação com o universo e a criação, possuindo (sengundo eles) poderes para modificar o meio ambiente em que vivem, alterando até condições climáticas, embora raramente achem necessário.
Embora assustadoramente terríveis tanto para pessoas comuns quanto para os próprios seguidores da via esquerda, os Aghoris possuem uma filosofia memorável que pode nos ensinar muito sobre o valor da vida.
OM NAMAH SHIVAYA.
Por Leon Blackwood
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