sexta-feira, 16 de março de 2018

Daath, a Sephira falsa e oculta

Se você buscar "Árvore da vida, cabala" no Google, encontrará diversos modelos da árvore da vida, alguns deles terão logo acima de Tipheret uma esfera chamada Daath; eu já havia mencionado que Daath era a fruta do conhecimento que Adam Kadmon consumia e então, se fragmentava, porque em Daath havia o bem e o mal, porém, eu não expliquei seu sentido na árvore da vida e o porquê dela não ser realmente uma sephira, mas que as vezes é representada como tal.

É importante colocar em mente: Daath não é uma sephira, ela não tem o mesmo papel que as outras e tem um significado particular e especial, pois é através dela que conseguimos alcançar a parte geradora da árvore da vida, é o último passo que damos para adentrar o plano energético de Biná, Chochmá e Kether.

Percebam que ela está situada no meio, no pilar central, acima dela há Kether (a evolução completa), abaixo dela Tipheret (o encontro com o SAG), é através do pilar central que o adepto ganha o equilíbrio, a ascensão do adepto se dá pela coluna do meio (observe a árvore da vida), quando ele atinge Tipheret, ele ganha o equilíbrio, é através da conciliação das energias opostas da árvore (a do rigor do lado esquerdo e a do amor do lado direito) que há a consagração no caminho do meio, chegando a Tipheret.

No momento em que o adepto alcança Tipheret, nasce "O FILHO", há o diálogo com o SAG, mas quem seria a figura do SAG? O Sagrado Anjo Guardião também chamado de Self é uma figura simbólica para o seu EU SUPERIOR e é em Tipheret que há o diálogo com você mesmo.

No Zohar Rabbi Bar Yochai diz que como no mundo do infinito o tempo não existe propriamente, nós já existimos em Ain Soph Aur como humanidade evoluída, ou seja, nós já habitamos Ain Soph Aur como Adam Kadmon com todos os nossos desejos egoístas corrigidos, mas devido ao distanciamento e à falta de percepção dos nossos sentidos físicos e talvez até mentais, precisamos ganhar a sensação da evolução, para isso trilhamos lentamente nossa caminhada com o sentimento de que não alcançamos ainda o estado final porque há a compensação do tempo, espaço e energia aqui.

Ora, lembremo-nos de que se em Ain Soph Aur habita o Criador e lá apenas cabe ele, como cabemos nós (Adam Kadmon) em Ain Soph AUr? É aqui que nós percebemos que somos o próprio Criador, sim, nós somos o próprio Criador que nos cria, nos conserva e nos destrói (perceba a correlação com os deuses do hinduísmo, Brahma constrói, Vishnu conserva e Shiva destrói) para então nos criarmos novamente, como Criaturas e Criadores sempre temos a vontade de doar e receber, é por isso que há a máxima hermética "O Tudo está no Todo e o Todo está no Tudo".

Laitman diz, baseando-se em Yochai que nós já estamos evoluídos em Ain Soph e como, que em uma sensação de "delay" nós ainda temos a sensação de estarmos aqui, portanto, nós já passamos por tudo isso, é coerente pensar que nós nos assistimos em Ain Soph Aur e "guiamos" indiretamente, nossos próprios passos e os da humanidade. Quando há a consolidação em Tipheret nós entramos em contato com o nosso Eu de Ain Soph, que nos guiará para a porta de Daath, ou a porta do próprio ABISMO.

Daath é considerada uma falsa sephira, denominada de "sephira" oculta, é ela que é o abismo que separa a realidade da ilusão, se nós atravessamos Maya em Malkuth (o véu da ilusão material), nós atravessaremos aqui Mara, o próprio senhor da ilusão, é Daath quem separa a percepção dual da percepção una, abaixo de Daath há a percepção dual (o maniqueísmo, o dualismo que já discutimos) e acima de Daath há a percepção una em Kether (a visão única de um Todo), é Daath quem separa e cria a tensão constante entre o Macrocosmo e o Microcosmo e é exatamente por isso que ela é chamada de falsa sephira, porque seu intuito é desviar a atenção da verdade, é desviar o adepto do caminho do meio para Malkuth novamente.

Aquele que estiver pronto para atravessar Daath passará por Mara ou como Aleister Crowley diz, o adepto enfrentará Choronzon (figura arquétipica da sombra), o habitante do abismo, a figura monstruosa que decide quem passa e quem é aniquilado; aquele que estiver pronto para ultrapassar Daath e se instaurar em Kether, aniquila o EU, o EGO e atinge a “perfeição”, mas aquele que não está pronto é devorado e aniquilado por Choronzon. Aqui percebemos a genialidade dos egípcios, na mitologia (que não tem nada de mitologia) egípcia: o morto atravessará o Duat, um local cheio de travessias perigosas, ilusões, desafios e pestes e então, ao final de Duat se o morto conseguir sobreviver, seu coração será pesado por Anubis juntamente à pena de Ma'at (olhem a correlação com Choronzon), se o morto (adepto) for digno, ou seja, seu coração estiver em EQUILÍBRIO com a pena (TIPHERET) ele pode ir para o paraíso de Aaru, mas caso ele não seja digno, ele é aniquilado por Ammit, o devorador de almas (observem as correlações da árvore da vida com a mitologia egípcia e se questionem se esse conhecimento é ou não é passado por civilizações).

Portanto, Daath é a dobra na criação, quando se fala de Daath eu sempre faço uma analogia à Alice no País das Maravilhas, nós somos Alice, estamos lá sentados, lendo, em um belo local, quando avistamos o coelho apressado (SAG) corremos atrás dele e caímos no buraco (Daath) e iniciamos uma jornada confusa no país das maravilhas, que aqui será o abismo; essa falsa sephira seria a dobra que paira entre o mundo da criação e o da formação, por isso ela é tão confusa, conflitante e sombria, porque lá nada é somente criação e nada é somente realidade, lá habita apenas o caos,e é Daath a sede dos daemons da Goetia (que será explicada devidamente depois), dos demônios pessoais e é lá que estão presentes as Qliphots da Árvore da Morte (que será também ensinada ao seu tempo certo), quando você cai no buraco de Daath a árvore da vida vira ao contrário e você é redirecionado à árvore da morte, se você conseguir trilhar a Etz haDaat Tov vaRa (árvore da morte ou como a maioria dos cabalistas chamam, árvore do conhecimento do bem e do mal) você atinge Kether.

Reparem que o nome dado de árvore do conhecimento do bem e do mal faz uma analogia extremamente interessante ao momento da criação, em que Adam Kadmon come do fruto dessa árvore (proibida) e então cai em "desgraça", exatamente porquê essa árvore está simbolicamente situada em Daath e Daath é o caos, lembrem-se aqui da passagem bíblica em que Javé Deus diz que o homem é agora conhecedor do bem e do mal (portanto, ele está em Daath) e só falta alcançar o fruto da árvore da vida e viver eternamente, ou seja, o momento da Criação na Bíblia também pode ser visto como o próprio momento final da criação, em que após o homem conhecer o bem e o mal, ele come novamente da árvore da vida e volta à Ain Soph Aur como "nós", deuses.

É, portanto, necessário passar por Daath para alcançar Kether; quando há a simbologia que Jesus desce aos infernos (à mansão dos mortos) e depois se reergue a direita de Deus pai, aqui claramente nós vemos que para ascender é necessário antes ir ao fundo do poço. Fazendo uma breve analogia à Divina Comédia, quando Virgílio encontra Dante na selva e Virgílio o guia para passar pelo inferno e purgatório para alcançar o paraíso, podemos aqui nos colocar como Dante e compreender o sofrimento necessário para alcançar a eternidade e iluminação.

Toda iluminação vem através de expiação, o caminho que não for árduo, não é o caminho verdadeiro.

Was erschrickst du deshalb? – Aber es ist mit dem Menschen wie mit dem Baume. Je mehr er hinauf in die Höhe und Helle will, um so stärker streben seine Wurzeln erdwärts, abwärts, ins Dunkle, Tiefe – ins Böse. - Also sprach Zararathustra, Nietzsche

(tradução literal) Por que você se assusta? O que acontece para a árvore, acontece também para o homem. Quanto mais deseja elevar-se para as alturas e para a luz, mais vigorosamente enterra suas raízes para baixo, para o horrendo e profundo: para o mal.

[Friedrich W. Nietzsche in 'Assim falou Zaratustra']


Referências: 
  • Árvore da Vida, Israel Regardie 
  • Cabala mística, Dion Fortune
  • The Zohar, Michael Laitman 
Por Catarina Florentz 


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